Tuchel não admite Kane, Bellighham e Foden no mesmo onze, Quer extremos mas quando vai ao banco muda o jogo
Pode o segredo para ganhar uma grande competição não estar no onze inicial? Se imaginarmos cada jogo tendo como decisivo o momento em que se mexe a partir dos jogadores que estão no banco, já pensados para entrar e então mudar a face da equipa para desmontar o adversário, é possível que sim.
Deverá ser esta fórmula com que Thomas Tuchel está a formar a sua seleção da Inglaterra rumo ao Mundial. Antes do último jogo em que recebeu e venceu a depressiva Sérvia, o selecionador alemão à frente da “Velha Albion” lançou o debate ao afirmar que, no modelo de jogo que pretende, Kane, Bellingham e Foden não podem jogar juntos no mesmo onze.
O “onze wingers” versão 2026

Na ideia de Tuchel está um 4x2x3x1 com extremos e, nesse sentido, os lugares nas alas são para os chamados “wingers”, asas personificadas em Saka, à direita, e Rasford, à esquerda. No centro, atrás do ponta-de-lança Kane, está o lugar em aberto que, neste momento, é ocupado por Morgan Rogers (do Aston Villa), a fazer um excelente arranque de época, mas que é mais segundo-avançado, pelo que o mais natural, atingido o melhor da sua forma, o lugar ser de Bellingham.
Não é, porém, uma decisão pacifica em face do emergir de Cole Palmer como o grande criativo do novo futebol inglês, no desmontar de marcações um-para-um, combinações/tabelas, último passe e remate.
A possibilidade de Bellingham recuar uma “casa tática” em campo é mais improvável em face da solidificação do “duplo-pivot”, onde ao lado de Rice, condutor-organizador nº8 como interior-esquerdo, fixa-se um médio-centro “âncora” de alto rendimento de recuperação, sentido posicional, duelos e passe: Anderson, motor de Notthingam, o tipo de médio físico-técnico-táctico que qualquer equipa tem obrigatoriamente de ter. Tuchel tem nele o “cofre-forte” do seu sistema.
O novo papel de Foden
Ao pensar em Foden para entrar neste onze, o mais natural seria imaginá-lo a partir duma faixa a certo ponto do jogo, mas Tuchel não quer abdicar de flancos verticais com extremos e não com avançados em diagonais (mesmo Rashford está, cada vez mais, na seleção como espécie de asa de faixa, “winger”).
O jogo com a Sérvia revelou então a ideia de Tuchel quando mexeu na equipa a meio do jogo (quatro substituições) e sem mexer no sistema e suas dinâmicas (meteu Henderson como alternativa ao duplo-pivot, lançou Bellingham a “10” e outro extremo, Eberechi Eze, na esquerda) apenas inovou no ataque ao colocar Foden como “falso 9” (saiu então Kane).
Nesta posição, Foden jogou de forma diferente do que faz nos princípios do City de Guardiola. Passou a vir buscar mais jogo em apoios no corredor central e funcionou quase como um nº9 pivot-ofensivo (algo que Kane, nos seus clássicos recuos também faz de forma sublime). O golo do 2-0, marcado por Eze a entrar desde a esquerda teve na base esse movimento e passe de Foden.
Variações do mesmo modelo

Num cenário de Mundial (seis/sete jogos para jogar a Final) é fundamental ter esta possibilidade de, jogando com curto espaço de descanso entre jogos, mudar algumas posições e revitalizar a equipa que pode, a certo ponto, estar a sentir natural desgaste físico-táctico.
É nisso que Tuchel pensa a trabalhar na mesma medida onze e banco (isto é, a equipa que começa o jogo e a equipa que potencialmente o pode acabar e ganhar).
Esta visão leva, talvez, a seleção inglesa para o seu patamar tático mais elevado das últimas décadas (utilizando também as expressões de técnica diferenciadas entre jogadores nas mesmas posições).
A equipa está mais culta a nível de posse de bola e sabe como, por vezes, abrandar o jogo para o controlar. Abre bem nos três corredores e, quando ataca, solta velocidade, individual e coletiva em combinações. Tanto podemos ver um ataque mais organizado-continuado como um ataque mais direto. É o manual-Tuchel





