O fabuloso projeto de Marrocos, da formação das bases à prospecção por toda Europa
Na base, a Academia Mohammed VI em Rabat, centro de treino de última geração inaugurado em 2009 pela Federação de Futebol de Marrocos visando o crescimento do talento do jogador marroquino desde sempre um exemplar de técnica e imaginação no contexto africano mas desde há muitas décadas também com cultura tática de influência francófona, um traço agora reforçado desde as bases por esta política desportiva que ergeu uma rede de academias por todo o país para descobrir talentos.
Jogadores hoje firmados na seleção principal, como Aguerd e En-Nesyri, apareceram nessa “caça ao tesouro” que também cativou os clubes a construir academias, casos do AS FAR, FUS Rabat e RS Berkane, todos com a mesma filosofia num programa nacional de formação englobando 14 clubes e quatro centros de controlo, em Sale, Casablanca, Ben Guerir e El Aaiun, percorrendo assim todo o país.. Um projeto global notável que sonha ter como corolário o Mundial 2030 que vai jogar-se também em Marrocos.
Os fenómenos Zabiri e Maama

Agora, neste eterno onze campeão do Mundo sub-20, estavam, na Final contra a Argentina, quatro filhos da Academia que reinventou Marrocos com bola: Zahouani, Yassine, Essadak e a grande figura do ataque Yassir Zabiri, 20 anos, que um dia o Famalicão descobriu a jogar no Union Touarga, clube das profundezas marroquinas.
Começou por jogar na equipa sub-23, teve uma lesão que o travou, foi sendo chamado à principal e agora já faz parte do plantel de Hugo Oliveira.
Mesmo assim, ninguém esperava esta sua explosão na seleção sub-20 jogando como ponta-de-lança móvel dum onze em 4x2x3x1 que o largava por toda a frente de ataque, lançando-se sobretudo na profundidade ou no chamado “lado cego” dos centrais para finalizar oportuno. Além disso, há os livres (como o que marcou na Final).
A seu lado, num flanco, um extremo destro a jogar na faixa direita: Othmane Maama. A rapidez com mudança de velocidade, finta em progressão e passe/centro.
Visto como craque maior deste Mundial, ele já faz parte da outra face do projeto marroquino de revolucionar e potenciar o talento do seu futebol: prospecção de talentos a jogar no exterior, muitos já emigrantes de segunda geração nascidos noutras paragens mas com sangue marroquino. Maama cresceu em França, do modesto AC Arles às escolas de formação do Montpellier e agora, aos 19 anos, foi para Inglaterra, para o Watford. é, porém, na raiz do estilo, um exemplar do jogador marroquino
O onze do técnico Ouahbi

Esta seleção fantástica é, pois, uma geração cruzada desde as bases de terrenos marroquinos com a diáspora espalhada por toda a Europa. Todos se reúnem agora no mesmo projeto.
Na frente, como treinador identificado com esta política e estilo de jogo pretendido, está Mohamed Ouahbi que após passar pelos escalões de formação do Anderlecht rumou a Marrocos em 2022 para orientar desde as seleções sub-18, sub-20 até à sub-23. A base do seu jogo segue o cruzamento Europa-África: “ adicionar à técnica que temos, mais força e inteligência tática ao nosso jogo”
Além das setas Zabiri e Maama, essa mescla pode ser vista por todo o onze sub-20 de Ouahbi. Desde a segurança atrás na “linha de 4”, com a dupla de centrais de 18 anos composta por Baouf (Andetlecht) e Bakhty (Sturm Graz) e laterais fortes a defender e a atacar, Zahouani (19, ainda no Union Touarga), à esquerda, e, sobretudo, Maaamar (20, Anderlecht), à direita, muito seguro a fechar e sair em apoios com bola.
No meio-campo, um duplo-pivot de recuperação e saída: Byar (20, no Bolonha) e Khalifi (20, no Lille). No ataque, em trocas posicionais entre o centro e a meia-esquerda, El Haddad (19, do Venezia), mais um “10” de apoio que alternou com Essadak (19, ainda para descobrir no Touarga) e o criativo canhoto Yassine (19, do Dunkerque), ala esquerdo. Este foi o onze-base de Marrocos campeão do mundo sub-20 em 2025.
Seguir a evolução de Marrocos será seguir um fascinante “tapete voador” de futebol rumo ao futuro.





