O estilo da moda 

“Por cá, nós conhecemos o futebol de Carreras. Em Espanha conheceram o estilo de Carreras na primeira impressão”

Existem jogadores que têm facilidade em causar boas primeiras impressões. São o que chamo, independentemente do seu valor que será medido exatamente mais tarde, os “jogadores comerciais”. Há outros, com muito futebol dentro, que não saltam assim à vista, por estilo ou contexto, de forma tão evidente. São os que apenas quem “sabe ver” detecta antes dos outros. O passar das épocas vai dizendo, depois, as verdades mais absolutas sobre cada uma desta diferente espécie sensorial de jogadores.

Carreras é um exemplar que pode combinar as duas perspectivas mas a forma como cativou a bancada do Real Madrid no seu primeiro jogo (em casa com o Osassuna) tem essencialmente a ver com o primeiro factor. Os adeptos adoram jogadores que correm muito (e mostram o esforço de recuar rápido a defender ajudando a equipa) e estão sempre com a “corrente elétrica” ligada seja na jogada mais importante ou na menos relevante.

Por cá, nós já conhecemos o futebol de Carreras. Em Espanha conheceram o estilo de Carreras (na tal primeira impressão). Toda a faixa (à frente e atrás) em velocidade permanente, cada bola como fosse a decisiva, duelos, ataques à profundidade, remates e recuperações com língua de fora.

Esteve sempre em jogo numa faixa com Vinícius extremo-avançado à sua frente (o que puxou ainda mais o jogo atacante para essa banda esquerda). Mais do que “jogar bonito” é dos que mete o pé (e todo o corpo) em todos os lances. Sempre. O melhor “spot comercial” futebolístico de inicio da época.

Os novos “periquitos” espanhóis

A La Liga arrancou e surgiu o primeiro admirável “onze periquito”, o Espanhol de Manolo Gozaléz refez-se com Dmitrovic na baliza que era de Joan Garcia (hoje no Barça) e teve no pé esquerdo de Pere Milla a melhor forma de, como ala com de “pé trocado” ou deambulando pelo meio, fazer abanar, quando entrou,  o primeiro “onze-exército” de Simeone.

Há equipas que valem pelo que agarram no jogo desde o inicio e este Espanhol faz isso no seu castelo. basta ver como Expósito pega no meio-campo e coloca todo o sector em seu torno. É um 4x4x2 de linhas juntas e duelos sucessivamente ganhos, o território de estilo que costuma ser “habitat” do At. Madrid mas que, num inicio de época com muitas mudanças no onze base, nunca foi compacto em campo.

É quase impossível afirmar que Simeone (que, ao longo de mais duma década, reinventou este At. Madrid de faca nos dentes, campeão e finalista da Champions) entrou em contraciclo da sua vida como treinador “colconhero” (porque hoje ninguém consegue já imaginar o At. Madrid a jogar e sentir os jogos de forma diferente, a partir dos bancos e no modelo de jogo) mas se há momento em que essa sensação cresce demais, é este.

Bayern e a Bundesliga multicultural

O novo Bayern tem as raízes futebolistas mais ancestrais. não conheço equipa que por mais que se renove pareça sempre ter o aroma do mais velho futebol de que me recordo. E, atenção, este é um elogio. Porque sou um nostálgico por natureza desse futebol “old school” onde entravam alemães que metem medo, mesmo que agora entre de estaca no onze um colombiano, Luis Diaz, enquanto Gnaby e Olise continuam a jogar com a mesma naturalidade com que respiram.

O “mundo dos panzers” deu ligar a outro tipo de domínio (6-0 ao Leipzig no primeira jogo da Bundesliga).

Kompany é um treinador que entende os novos tempos de cruzamento de estilos e Kane é o ponta-de-lança que sabe a melhor forma de… o deixar de ser durante o jogo e passar a ser um segundo-avançado entrelinhas de rotação e passe de ruptura diagonal. Ninguém faz isso melhor do que ele (do Tottenham, seleção, a Munique) no atual futebol mundial.

O da “globalização” que faz do coreano Kim Min-jae um “alemão” em estilo de jogo quando entra. A bola rola desde o “baixinho Kimmich e a partir daí  percebemos os novos contornos do outrora “passeio dos músculos”. Esse futebol tornou-se uma paragem turística para jogadores vindos de todo o mundo.   

O conforto que Blas me dá

Pelo planeta do futebol, uma das equipas que sempre tenho buscado, nos últimos anos, porque sei que ali encontro uma boa ideia de jogo, com técnica apoiada, ordem defensiva tática e aposta em novos talentos (sem perder referências) é, em França, o Rennes.  

O inicio da Liga Francesa, contra o belo (mesmo perdendo demasiadas vezes) Marselha de De Zerbi mostrou isso.

E, falando, de jogadores que sigo desde há tempo, confesso que fiquei triste ao ver um que adoro, Ludovic Blas, 27 anos, começar do banco. Ele é um médio-ofensivo ou ala criativo e sentido de organizador, com passe, visão e ruptura. Entrou, por fim, a cinco minutos do fim. O que aconteceu? Iludiu a linha do fora-de-jogo, isolou-se e marcou o golo da vitória. Senti por dentro uma alegria e um conforto que deu sentido à forma como gosto de futebol. O estilo de Blas é um deles.

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