“Não creio que Rui Borges deixe cair o novo sistema, mas nota-se, nos movimentos, as saudades dos jogadores da velha estrutura tática”
No início, reparei que o Casio não era o mesmo, ou teria só mudado a bracelete, e estranhei ver a equipa num equipamento com tons rosa.
Dirão que nada disto importa mas para o lado místico do futebol, estas mudanças são um risco em dias de jogo, sobretudo um tão importante.
Estou, claro, a teorizar de forma disparatada, porque o bloqueio do onze leonino teve, obviamente, causas tacticamente mais palpáveis.
Desde inicio, o onze não passou boas sensações. Até marcou cedo mas nem essa vantagem fez a equipa encontrar-se. O Braga, mesmo ferido, pegou na bola e esteve sempre melhor.
Rui Borges busca solidificar um novo modelo de jogo que continua sem dar sinais colectivos de estar confortável com a mudança de sistema. Sector por sector, os jogadores estranham as novas posições numa estrutura (do 3x4x2x1 para o 4x2x3x1) que alterou a sua interligação de movimentos.
A mudança inter-sectores
Desde os centrais, onde antes a “3”, o inicio de construção ficava limpo para Debast e Inácio, com Diomandé mais “stopper”, e que agora, em dupla, não tem a mesma largura e abertura de saída de bola. Precisam da junção dum médio ou lateral e isso muda o jogo interior, desde logo na transição a meio-campo.
Hjulmand fica mais preso atrás quando antes, com três centrais nas costas, subia mais para pressionar e até chegar à frente com remate.
Os laterais, antes extremos a atacar, tornaram-se ora um deles mais apoio por dentro no inicio de construção (á direita, onde existe um extremo natural, Quenda ou Catamo), ora o outro mais ala a atacar (à esquerda, onde não há extremo, pois Pote busca o espaço interior-esquerdo de segundo avançado).
A diferença é que antes Pote estava de raiz nesse espaço com médios-centro a subir. Agora, tende muitas vezes a ir na largura primeiro e quando chega à sua zona interior, já não recebe a bola orientado da mesma forma.

Trincão e a falsa questão-física
Vejo alguns jogadores mais cansados, como Trincão, mas a maioria desse desgaste vem de correr demais por locais que não são dele em busca do espaço certo (segundo-avançado direito) que antes ocupava ou aparecia naturalmente.
Agora, nesta nova estrutura, o mapa dos espaços (a ocupar ou invadir) mudou e obriga a um diferente esforço táctico-mental.
Todos os jogadores mudaram a forma de fazer as posições e sentem-se, claramente, menos confortáveis quando têm ou recebem a bola. Nestes jogos, custa-lhes tanto sair da pressão desde trás (o Braga pressionou com muita gente) como receber na frente entrelinhas com as mesmas referências orientadas-desequilibradoras de antes.
A mudança do estilo do ponta-de-lança tem importância mas não a nível de modelo, apenas na sub-dinâmica individual da posição.
Não creio que Rui Borges deixe cair já as estruturas da sua nova “casa tática comum” mas que nota-se na cara e corpo dos jogadores as saudades da sua “velha casinha” (tão bonita como eles).





